Se você cresceu nos anos 2000, com certeza já ouviu falar da banda Scracho e de músicas como “Morena”, “Divina Comédia” e “Som Sincero”. O que você talvez não saiba é que um dos nomes por trás das composições desses hits é Gabriel Leal. Guitarrista e compositor, ele esteve por anos nesses papéis, mas agora resolveu dar voz aos seus próprios sons. Dando início a essa nova fase, nasceu o single “Versão Limitada”, um baião moderno com toques de MPB, que fala sobre superar um relacionamento conturbado. Para saber mais sobre essa jornada, o Anota o Som conversou com Gabriel.
Do Scracho à carreira solo
Gabriel Leal foi integrante da banda Scracho até 2012. Depois se mudou para Berlim, onde vive até hoje. Mesmo após sua saída, suas canções seguiram no repertório do grupoaté a pausa em 2015. Desde então, esteve presente em todas as reuniões da banda, incluindo os reencontros mais recentes. A carreira solo vem como uma forma de se reconectar com suas raízes e de atender à necessidade de ver suas músicas ganharem vida.
“Eu tinha uma conexão enorme com músicas que eu tocava no violão e tudo que eu conseguia fazer, era ouvir no gravador de voz do meu celular. E era mais fácil acreditar que alguém iria ouví-las e ter vontade de gravar do que acreditar que eu poderia fazer isso por conta própria. Com o tempo, as músicas foram se acumulando até eu me sentir sufocado de não vê-las no mundo. Acho que eu percebi, em algum momento, de que eu estava com medo de me expor e decidi encarar isso”, afirma o artista.
Apesar de muitos desafios para assumir um projeto individual, Gabriel destaca um ponto específico: cantar suas próprias músicas. “Cantar, por exemplo, é algo que eu nunca fiz. Tinham outras pessoas pra cantar minhas músicas. Mas, de certa forma, tem sido uma viagem muito interessante, a de se enxergar nesse lugar.”
Ele também comenta sobre o processo solitário de decisões em um projeto solo: “O que eu tenho muita dificuldade também é de não estar numa banda pra decidir (discutir hahah) sobre tudo. Num projeto individual, você toma todas as decisões, ao mesmo tempo que é responsável por tudo. É difícil pra mim conjugar na 1a pessoa do singular. Volta e meia eu me pego falando “a gente decidiu” quando fui eu mesmo hahaha”
O nascimento de “Versão Limitada”
Com a decisão tomada, era hora de escolher qual seria o single de estreia. E é aí que entra “Versão Limitada”: “Eu escrevi ao sair de uma relação abusiva, mas todo mundo já se sentiu uma versão limitada de si mesmo, seja em situações de trabalho, com familiares, num namoro ou de amizade. Por pior que seja, eu acho que dá pra sair dessa (sempre dá!) cantando algo pra cima, como um baião”, conta.
Com clima junino e um forrozinho moderno, “Versão Limitada” chega no tempo certo. Quando perguntado se o lançamento em junho foi proposital, Gabriel diz: “Foi e não foi. hahaha Eu fui pro Brasil em março e na volta eu já tinha 5 músicas gravadas. Como artista independente, eu não sabia quanto tempo eu precisaria pra lançar, fazer a burocracia toda. Imaginei que em Junho eu conseguiria pôr algo na rua. ‘Versão Limitada’ foi a primeira a ficar completamente pronta. Meio que pareceu fazer sentido, essa decisão. Ela ser um baião em período junino faz sentido, mas eu acredito na sobrevida dela, mesmo em tempos efêmeros, exatamente pela música ter sua profundidade.”
Coincidência ou não, a letra da música também pode ganhar outro sentido nessa nova fase do artista, especialmente quando canta: ‘Foi demais, me encolhi / Pra tentar me encaixar / Eu sou mais que essa versão limitada’. Gabriel comenta: “Uma vez decidido que seria essa música, parece que ela ganhou outro sentido. ‘Eu sou mais que essa versão limitada’ também parece ser sobre não ser apenas um guitarrista de uma banda. Mas a música tá longe de falar sobre isso”.
Entre o passado e o agora
Claro que ser guitarrista e compositor de uma banda deixou muitas bagagens e ele reconhece isso: “Eu acredito, de coração, que a música me salvou da mediocridade. Viver de música me permitiu sonhar muito mais do que a maioria da população. Te faz olhar pra sociedade com outros olhos, exatamente porque você vive a vida em outra rotação. E com o Scracho eu conheci um pouco dos Brasis que existem, das dificuldades e belezas de uma convivência tão próxima e aprendi muito sobre mim. Cada um mede sucesso de uma forma, né? Eu acho que nesse sentido, a banda foi um sucesso.”
Quem conhece o som da banda, pode se perguntar se dá pra esperar algo parecido com Scracho nos trabalhos de Gabriel Leal, mas como o artista já não é mais uma versão limitada de si, ele deixa portas abertas para novos caminhos, como podemos ouvir neste single de estreia.
“Eu acho legal que existe uma sonoridade que remete a “Scracho”. Acho que é um feito da banda. Ao mesmo tempo, eu acredito na presença dos 4 pra se chegar a ela. Eu sozinho não tenho a pretensão de fazer isso. Mas o que eu também acredito, é que não foi só a sonoridade que ligou as pessoas às músicas. Pelo menos em termos de composição (que é a parte que mais me cabia) acredito que existam similaridades. O que eu me propus foi dar vida às minhas composições, que são plurais. Acho que foi essa a sonoridade que eu busquei, a de ser fiel ao que as composições pedem.”
O que vem por aí?
Gabriel define a nova fase de sua trajetória como “sonho”. “Uma amiga minha veio me falar que tinha tempo que ela não sonhava em realizar algo. Acho que, com a idade, eu também deixei alguns sonhos adormecer. Foi preciso vencer alguns medos pra poder acordar esse, mas faz esse processo ser mais especial ainda.”, conta. Inspirador, não?
Bom, agora “Versão Limitada” está no mundo e pronta para ganhar novos significados. Quando perguntado como gostaria que as pessoas recebessem o som, o artista diz: “Eu queria que ela fosse recebida, primeiramente hahaha Estamos aí servindo ao Deus Algoritmo pra que as pessoas possam ouvir, pelo menos. Se vão curtir, é outra história.”
E quanto aos próximos passos? “Eu diria pra curtir “Versão Limitada” nesse primeiro momento, mas que outras surpresas virão em seguida.”
Gabriel encerra com um convite: “Obrigado pelo espaço, pessoal do Anota o Som. E pra você que não sabe bem o que esperar desse trabalho, eu te convido pra gente descobrir junto. Grande abraço!”
Escute “Versão Limitada” e outros bons lançamentos na playlist “novos sons”.