“Canções de Plástico”: um espetáculo sobre o amor em todas as suas formas

Eles são artistas. 

Qual imagem vem a sua mente quando lê essa frase? Um grupo de pessoas extrovertidas? Criativas? Que são fora dos padrões?

Bom, posso até tentar chutar o que passou pela sua cabeça, mas o que tenho certeza mesmo é que a banda Kafkianos se encaixa completamente na definição de artista. O trabalho deles é arte. O posicionamento deles é arte. 

Em outubro deste ano, lançaram o disco “Canções de Plástico”, o segundo de estúdio do grupo. Na resenha de hoje, vou falar sobre as diversas camadas desse trabalho, mas, principalmente, como a banda conseguiu criar uma estética e uma sonoridade que é, no mínimo, muito perspicaz.

Um disco totalmente coerente ao nome da banda

Franz Kafka foi um escritor tcheco, um dos maiores do século XX. Nascido em 1883 e falecido em 1924, sua obra é marcada por temas como o absurdo, a angústia e a alienação, influenciando a literatura moderna e dando origem ao adjetivo que nomeia a banda. Kafkiano.

Entre os diferentes aspectos que definem alguém que se considera “kafkiano”, a banda destaca que o que mais os influenciou foi o debate ao fazer artístico que o autor provocou.  Para Kafka, o fazer artístico não era uma escolha de carreira ou uma atividade agradável, mas uma necessidade vital e, ao mesmo tempo, um tormento.

No disco que trago aqui hoje, o tema é o amor. Como bons Kafkianos, a abordagem do grupo explora os diferentes tipos de amor – o jovial, o cafajeste, o avassalador, o angustiante. Mas tudo para mostrar que, simultaneamente, o amor é positivo e negativo. Faz bem e faz mal. Alegra e entristece.

E essa visão extrapola o som para o âmbito material. Contribuindo para o universo visual do disco, o grupo usa o conceito da comédia italiana, com palhaços, cada um encarnando um arquétipo mais relacionado à personalidade de cada um. 

O trio encarna três diferentes arquétipos de palhaço: o Tolo, o Pierrot e o Arlequim.

Sim, eu sei. É muito bom consumir arte de artistas que pensam com intencionalidade.

A dualidade de cada faixa. E da sequência escolhida.

Desde a primeira faixa, “Era uma vez…”, já notei que se trata de um trabalho que carrega uma teatralidade. Cada faixa parece compor uma cena do grande espetáculo que “Canções de Plástico” é.

E o mais incrível: não estamos falando de apenas uma gênero musical, e sim de vários. E vários em uma mesma canção.

O disco é diverso e complexo, mas, ao mesmo tempo, coeso – bem kafkiano, né? Desde faixas mais lentas e sentimentais, como “Assunção”, até as mais experimentais e potentes, como “Onde Nascem os Rios”, o disco conta uma história, completa um arco narrativo.

Como já mencionei no início desse texto, um adjetivo que poderia atrelar a esse trabalho – além de kafkiano – é a perspicácia. A banda foi perspicaz pelo inglês da faixa “Complexo de Ailoviu”. Foi perspicaz pela transição doce de “INTERMISSÃO”. Foi perspicaz pelas falas engraçadas de “Idealíssimo”. Foi perspicaz pela magnitude que conseguiram construir com “Ela” – essa é a que mais me tocou.

Ao final dos quase 55 minutos de audição do disco, me vi com a mesma sensação depois de assistir a aquele tipo de filme que demanda digestão. Uma elaboração. Agora, dias depois de ouvir, posso dizer com todas as letras: eles são artistas.

“Canções de Plástico” está disponível em plataformas digitais. Ouça agora!

Ficha técnica:

  • Lançado em: 30 de outubro de 2025
  • 21 Títulos (54m 47s)
  • Gravado em: Studio Ímpar
  • Lançamento: Bacano Records

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