Da sala de aula da UFBA para as plataformas de streamings, “Arte Viva” é o novo EP de JotaPê, artista independente baiano.
Natural de Lauro de Freitas – BA, JotaPê é um artista independente que começou a carreira musical em 2017. Desde então, lançou alguns grandes trabalhos como por exemplo, o álbum “Fora do Padrão”, que envolveu 18 artistas: MCs e produtores da cena de Salvador e Lauro de Freitas. O artista também já lançou uma mixtape e diversos singles, acumulando mais de 80 mil streams no Spotify e YouTube. Além disso, JotaPê também faz parte do grupo de RAP “XIV”.
O mais novo trabalho do baiano é o EP “Arte Viva”, composto por três faixas, que inicialmente haviam sido desenvolvidas apenas como requisito avaliativo da disciplina Estudos das Culturas da UFBA, onde JotaPê estuda Artes. “O projeto traz consigo diversos aspectos trabalhados em sala durante o semestre e tem o intuito de sintetizar os debates. Sem querer resumir ou concluir os assuntos ele é mais um pontapé inicial para essas questões, afinal a arte tem esse poder de convidar as pessoas, sejam elas telespectadores ou ouvintes, a participarem de discussões de cunho político-social”, conta.
O artista ressalta que toda a construção do trabalho vem de sua vivência e a partir de leituras dos textos propostos por seu professor, Claudenilson Dias. “O programa semestral foi dividido em 3 blocos: BLOCO 1 – REVISANDO A COLONIALIDADE; BLOCO 2 – CULTURA E IDENTIDADE; e BLOCO 3 – CULTURA E RELIGIOSIDADE. Por isso, as faixas que integram o EP são: 1 – Estado Cínico (Faixa que fala sobre a colonialidade e as marcas que ela deixou em nossa população); 2 – Arte Viva (a qual leva o nome do EP e fala sobre gênero e identidade de maneira geral); e 3 – Cantar Para Ser (onde o foco são as religiões afro-brasileiras e a esperança de um futuro melhor)”, explica.
O EP começa fazendo uma reflexão acerca do processo de colonização que o Brasil passou e as marcas que ele deixou. “Estado Cínico” é uma música forte, que apesar do calmo instrumental, traz difíceis reflexões na composição, como no trecho: “Nosso passado ninguém quer relembrar e / Enriqueceram um continente com recurso que é da gente / Para um país que eu nunca vou visitar”.
A faixa que é também título do EP, fala sobre a dificuldade em encontrar-se no mundo preconceituoso que hoje vivemos, principalmente com pessoas LGBTQIA+. A mensagem principal que a música busca deixar é “o respeito que precisamos praticar cada vez mais, não só com conhecidos, mas com toda a sociedade”. Em um batuque que lembra o Olodum, “Arte Viva” faz uma crítica ao falso livre arbítrio que é pregado por alguns. O refrão, “Quem sabe um dia eu vou viver para me encontrar / Quero saber, reconhecer, identificar / Se for preciso ressignificar / Essa áurea que me cega e faz o meu tempo parar”, faz com que a reflexão seja individual.
“Cantar para Ser” finaliza o EP falando sobre fé, com uma mensagem positiva. JotaPê acredita que cabe a nós continuar lutando por um futuro melhor e é perceptível que o artista fez isso em todo seu trabalho. “Diferente das outras músicas, esta faixa traz referências diretas aos textos lidos: Não adianta colocar textão no insta / Se na pista é diferente daquilo que tu propaga / Conhece Floyd e o Black Lives Matter / Foi sua militância, mas não vi você falar de Rafa Braga / Jayro Pereira é só mais um para pesquisar / E Vó Nitinha você tem que aclamar / Intolerante a gente passa para outro plano / Interessados tô aqui para informar”, destaca. Esta canção conta com um breve depoimento de Alice Saraiva, candomblecista que fala sobre a felicidade de pertencer à religião.
O trabalho feito nesse EP é político. É importante estarmos atentos ao que artistas como JotaPê estão falando. Todas as reflexões trazidas pelo artista nessas três faixas são engrandecedoras e merecem ser escutadas. Escute “Arte Viva”!