Espero não estar muito atrasada para falar do que, na minha opinião, já é um dos melhores discos do ano. Lançado no dia 15 de abril, Divina Casca é realmente divino. Rachel Reis já havia se firmado como uma das maiores artistas da nova geração e seu segundo disco, com 15 faixas (!!!), é mais uma comprovação disso.
Com uma mensagem positiva (coisa que todo mundo precisa) e forte, o álbum todo é gostoso de ouvir tanto nos bons dias quanto naqueles que não são tão bons assim – mas que a gente quer transformar em algo melhor.
Os primeiros segundos já são potentes: “Não há ninguém que eu queira ser além de mim”. Confortável na própria casca, Rachel entrega esse mantra em numa sonoridade tão deliciosa quanto a letra em “Casca”. Seguimos para um dos melhores feats do disco, “Alvoroço”, com BaianaSystem, que é uma chuva de baianidade. A música carrega a identidade da cantora e do Baiana, e o resultado não poderia ser melhor!
“Noite Adentro”, “Jorge Ben” e “O Maior Evento da Sua Vida” formam, pra mim, a melhor sequência possível. Na verdade, o disco todo é muito coerente, mas essas três, em especial, conversam demais entre si. O samba, reggae e axé ficam muito evidentes aqui. Posso falar com propriedade, já que “O Maior Evento da Sua Vida” foi a minha música mais escutada no mês de maio.
Agora voltando a falar sobre versos potentes, “Tabuleiro” traz “Sabe o que eu quero mesmo ser? Ser genuína comigo, verdadeira comigo”. Mais uma vez, Rachel fala de si mesma de um jeito que gera identificação – pelo menos por aqui, causou. É um feat poderoso com Don L, Nêssa e Rincon Sapiência (essa, a melhor colaboração do disco!).
De sereia a “Furacão”. “Hoje eu levantei Furacão / Pronta para partir no meio, destruir o que já não me cabe mais / Resolvida a ser mais por mim / Devastando e, finalmente, aniquilando o que se fez maior, por fim”. Preciso dizer mais? Sei que ela, “Casca” e “Tabuleiro” são a santa trindade do autoconhecimento – e eu desejo isso.
“Ensolarada” e “Caju (Noda)” já eram conhecidas. A segunda, inclusive, fez parte da trilha sonora da série original da Amazon, Cangaço Novo. Foi gigante desse jeito!
“Sal da Pele”, “Quando” e “Aquele Beijo” formam outra sequência que faz muito sentido. Têm vibes parecidas: fim de tarde, fim de praia. Pop leve, MPB… são músicas que reafirmam o quanto essa nova geração é talentosa e o quanto Rachel Reis merece estar entre os grandes nomes dela.
A única que parece um pouco perdida entre as 15 faixas é “Apavoro”. É um pagodão baiano gravado com Psirico, um dos grandes nomes do ritmo na Bahia. Não me entendam mal, não é que a música seja ruim, só é a mais fora da curva do restante do álbum.
“Sexy Yemanjá” é uma regravação que tem tudo a ver com a sereiona. A música de Pepeu Gomes ficou muito bem na voz da baiana, parece que foi feita para ela. Casou super bem com o disco.
E, finalizando tudo com chave de ouro, “Deixa Molhar” é uma ótima última faixa. Divertida, ensolarada, batidas muito boas, encerra Divina Casca como merece.
O segundo álbum de Rachel Reis mostrou o quanto a baiana amadureceu nesses três anos desde seu disco de estreia (e olha que ali o potencial já estava mais que afirmado). Em Divina Casca, ouvimos uma mulher que está numa jornada de autoconhecimento como ser humano, como mulher e como artista. Ela sabe o que quer e acho que é isso que faz o disco soar tão potente, tão inteiro, tão divino. Não tem como não ser cinco estrelas. É um dos melhores, se não o melhor, disco do ano.